CAPÍTULO II
ESTÓRIA NATURAL DE CHIOGLOSSA LUSITANICA



 ........COMO LER A ANTOLOGIA SEM SE TORNAR UM ANARQUISTA 

Nas citações, faz-se transcrição literal, significando isto que se respeitaram as convenções das fontes, incluídas as gralhas tipográficas, exceptuando as de José Maria Rosa de Carvalho, em que nos servimos de transcrições pessoais das cartas, com ortografia actualizada.

As cotas da colecção de cartas de Rosa vão de CN/C-11 a CN/C-44. Em aparência são todas para Bocage, excepto uma para Fernando Mattoso Santos, a falar da sua colecção de ovos. Muitas não têm data nem local, o que também acontece com as de Francisco Newton. A falta não se deve a distracção ou falta de zelo. Estes homens são profissionais altamente especializados no âmbito da História Natural - como agentes subversivos. Sabem perfeitamente que uma colecção de ovos, supondo, se não tiver indicação da data e do lugar onde foi coligida, não tem valor científico. A informação sobre ano e mês é biológica, serve para se saber qual a época de reprodução, e se a ave é ou não nidificadora em dada zona, pois pode ser apenas passageira nas rotas migratórias; o local estabelece o habitat, a área de distribuição geográfica. No caso de Rosa, a falta destas indicações atinge sobretudo os girinos - em aparência, a Chioglossa passava a vida a pôr ovos, se bem que até aos nossos dias só ele e Sequeira (1886) declarem que a Chioglossa é ovípara.

Usamos o negrito para chamar a atenção, o que muitas vezes nos dispensa de comentários, os outros sinais pertencem aos textos citados. Um deles requer esclarecimento, o ponto de exclamação. Quando os autores escrevem “Boscá!”, “Valongo!”, “Museu da Escola Politécnica!”, isso quer dizer, no primeiro caso, que a informação está a ser atribuída a Boscá, ele é indigitado como fonte primária. No segundo e terceiro, que foi o autor do próprio artigo a verificar a existência de dada espécie no local assinalado com !. Como vemos, a espécie tanto pode ser descoberta no campo como nas colecções de um museu.

 Os manuscritos citados pertencem ao Arquivo histórico do Museu Bocage (AhMB) - Museu Nacional de História Natural, Lisboa.

Além dos identificados pela cota, usámos o conhecimento de outros, quer na primeira parte do trabalho, quer nas observações da antologia. Outras informações, para as quais não indicamos fonte, ou constam das referências da antologia ou das revistas citadas.

 Uma das principais disciplinas atacadas é a zoogeografia - as informações sobre o habitat são contraditórias, evasivas, e algumas referem-se a locais imaginários. A Chioglossa não foi encontrada no Quadraçal, mas outras espécies foram-no. O topónimo é impreciso e duplo - os nomes mais aproximados que registam as cartas militares são as duas regiões contíguas de Quadrassal e Quadraçais, em Trás-os-Montes.

A palavra, como substantivo comum, faz parte do calão dos pedreiros: quadraçal é o granito ainda não de todo esquadrado - o obelisco, por exemplo, quando está ainda na pedreira, e tanto pode vir a ser Obra como a estalar. Se estala, fica ali exposto como acidente ou fracasso, fazendo parte da pedreira. Estamos em presença da linguagem simbólica da maçonaria, aplicada a espécies acabadas de criar, que ainda não se sabe se vão ser um fiasco ou uma revolução. Noutros casos, são associadas a bebés recém-nascidos.

Grande parte da documentação usada faz parte do espólio da biblioteca do Museu Bocage, e alguma pertenceu ao próprio Bocage. Eram trabalhos oferecidos pelos colegas, com dedicatórias, por vezes emendados à mão. O privilégio de termos podido usar material nestas condições foi um dos nossos melhores auxiliares.